Page 147 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Resumo




                  O presente estudo faz uma revisão das metodologias de ajustamento ao ciclo
            econômico adotadas no cálculo do “resultado fiscal estrutural”, principal indicador
            utilizado por organismos internacionais e incipientemente por órgãos oficiais no
            Brasil para analisar a sustentabilidade e a orientação da política fiscal. Essa revisão
            e sua aplicação prática se baseiam na recente literatura internacional disseminada
            por estudos da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional (HAVIK
            et al., 2014; CARNOTT; CASTRO, 2013; LENDVAI et al., 2015; HRISTOV et al.,
            2017), que tentam superar as fragilidades detectadas na estimativa das duas variá-
            veis-chave do ajustamento cíclico: o PIB tendencial (ou potencial) e as elastici-
            dades receita-PIB.
                  Com base nesse referencial teórico-empírico, mostramos inicialmente
            que as estimativas de produto tendencial pelo filtro HP apresentam deficiências
            insuperáveis (principalmente em conjunturas econômicas de elevada volati-
            lidade) e, alternativamente, adotamos alguns dos principais aprimoramentos
            da metodologia da função de produção, propostos recentemente pela Comissão
            Europeia, para estimar os hiatos do produto e para avaliar sua plausibilidade. Em
            seguida, submetemos as receitas do governo a um ajuste prévio de correção (tax
            correction) e estimamos suas elasticidades com o uso de modelos de correção de
            erros (MCE), de forma a permitir que a dinâmica de curto prazo pudesse incor-
            porar uma estrutura não linear, a fim de se levar em conta a influência do ciclo
            econômico nas estimativas.

                  Os resultados (e testes de estabilidade paramétrica) indicam, em primeiro
            lugar, que as elasticidades de longo prazo são próximas da unidade e bem menores
            do que as estimadas por outros estudos semelhantes aplicados ao Brasil, uma vez
            que estes desconsideraram os efeitos distorcivos causados pelas mudanças na
            legislação tributária (onerações e desonerações). Em segundo lugar, indicam que,
            no curto prazo, em “tempos extremos” (elevado hiato do produto, positivo ou
            negativo), as elasticidades divergem da unidade e alcançam um patamar de 1,5,
            provendo subsídios à hipótese de que nas recessões (e nos booms) as receitas caem
            (crescem) proporcionalmente mais do que o PIB.

                  Por fim, como base no produto potencial e nas elasticidades estimadas,
            mostramos que a atual recessão reduziu ciclicamente as receitas em dois pontos
            porcentuais do PIB e que, estruturalmente, o resultado fiscal deteriorou cerca de
            4,8 pontos porcentuais do PIB entre 2008 e 2016. Dessa deterioração, cerca de
            40% podem ser explicados pela expansão fiscal (segundo metodologia adotada
            pela Comissão Europeia), mas 51% estão relacionados à quebra estrutural na
            tendência do PIB.
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