Page 174 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


               A questão é: o que pode explicar que a elasticidade divirja da unidade e,
          além disso, varie ao longo do tempo, como tem sido verificado em muitos estudos?
               A primeira resposta óbvia é que as bases de arrecadação são distintas do PIB
          (salários, lucros, consumo, importações, faturamento de empresas, dividendos de
          empresas estatais, royalties e outras receitas patrimoniais e taxas que, em alguns
          casos, têm pouquíssima relação com a atividade econômica) e não são tributadas
          homogeneamente, de modo que a elasticidade média tende a ser diferente de 1 e
          variar ao longo do tempo por efeitos de composição. Por essa razão, a Comissão
          Europeia e a OCDE estimam as elasticidades das receitas em relação às bases
          de arrecadação e destas em relação ao PIB num processo de duas etapas, o que
          pode se tornar bastante complexo para países com informações imprecisas sobre
          algumas das referidas bases, como é o caso brasileiro.

               A segunda explicação para a elasticidade variar e diferir da unidade são as
          mudanças na legislação tributária, que afetam o nível e a composição da carga
          tributária. Se tributos são criados e alíquotas são majoradas, é de se esperar que a
          elasticidade receita-PIB seja maior do que a unidade. Assim como a elasticidade
          será menor do que a unidade durante um período de desonerações tributárias.
          Por isso, a Comissão Europeia também tem adotado procedimentos de ajuste
          das séries de receita às medidas tributárias discricionárias (tax correction) com o
          intuito de limpar as bases de dados antes de submetê-las a estimativas economé-
          tricas.

               No  caso  brasileiro,  tal  procedimento  de  correção  das  séries  de  tempo  é
          fundamental se considerarmos o elevado grau de intervenção do governo sobre
          o sistema tributário nas últimas três décadas, sendo possível identificar clara-
          mente duas fases, segundo Orair (2015) – uma de aumento legislado e contínuo
          da carga tributária entre 1988 e 2004 e outra, em seguida, de predominância
          de desonerações, principalmente a partir de 2009. Contudo, a carga tributária
          permaneceu crescendo durante um período de aparente neutralidade tributária
          (e extinção de um tributo, a CPMF) entre 2005 e 2008 (vide gráfico 3). Tal fato
          remete a uma terceira possível explicação para a não linearidade entre receitas e
          PIB: os aumentos ou as quedas extraordinárias de arrecadação em função do ciclo
          econômico (shortfall/windfall).
               A intuição por trás dessa explicação é que, durante os períodos de boom
          econômico e/ou financeiro, as receitas teriam aumentos extraordinários em função
          do aumento de operações tributadas. É o que aparentemente ocorreu no Brasil,
          em 2007 e 2008, com abertura de capital de empresas, aumento do valor de ativos
          e realização de ganhos de capital e lucros não operacionais acima do normal. Por
          outro lado, durante as recessões, também seria possível verificar quedas mais do
          que proporcionais na arrecadação em função de um efeito composição (mudança



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