Page 153 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
P. 153

Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


                                         1 Introdução




                  A profunda crise por qual passou a economia brasileira nos últimos anos
            abalou de tal forma o equilíbrio das contas públicas que talvez suas conse-
            quências  ainda não  tenham sido  completamente  absorvidas  e compreendidas
            pelos analistas e formuladores da política fiscal. A abrupta transição de uma fase
            de crescimento econômico mais acelerado, embora sujeita a oscilações cíclicas,
            como a que vivemos entre 2007 e 2012, para a fase de desaceleração nos anos
            2011-2014, que culminou numa recessão de mais de dois anos em que o Produto
            Interno Bruto (PIB) encolheu cerca de oito pontos porcentuais e ainda apresenta
            sinais frágeis de recuperação, produz incertezas significativas sobre como avaliar
            a política fiscal nesse período e sobre o tamanho do esforço que será necessário
            para o país voltar a produzir superávits primários compatíveis com a estabilização
            da dívida pública.

                  Tanto  a  avaliação  da  política  fiscal  no  passado  e  no  presente  quanto  a
            calibragem e o monitoramento de metas fiscais no futuro requerem que se analise
            a natureza do ciclo econômico e seus efeitos sobre o desempenho fiscal. Ou seja, é
            preciso mensurar quanto do resultado fiscal (ou de suas variações) é explicado pelas
            condições cíclicas da economia e quanto é “estrutural”. Justamente por isso, cunha-
            ram-se na literatura como “balanço estrutural” (structural balance) os resultados
            fiscais ajustados aos diferentes ciclos a que uma economia pode estar submetida,
            como o ciclo econômico em si, os ciclos de preços de commodities e outros fatores
            correlacionados que influenciam as variáveis fiscais, sobretudo as receitas.

                  Basicamente, o que os modelos de ajustamento cíclico buscam fazer é
            projetar qual resultado fiscal poderia ser alcançado na ausência desses ciclos. O
            que impõe estimar o PIB potencial ou tendencial e atribuir como componente
            cíclico os hiatos do produto efetivo em relação a essa variável não observável, bem
            como estimar as elasticidades das receitas que potencializam o efeito cíclico sobre
            cada uma delas.

                  Uma  vez  que  todos  os  resultados  fiscais  estejam  ciclicamente  ajustados,
            ou seja, referenciados no PIB potencial e não no PIB efetivo, depreende-se que
            as variações nos resultados fiscais são indicadores das políticas discricionárias
            do governo – ou seja, impulsos expansionistas ou contracionistas, dependendo
            do sinal da variação (negativa ou positiva). Embora a lógica seja razoavelmente
            simples, a estimação do hiato do produto e dos parâmetros (elasticidades) envolve
            questões bastante complexas e controversas, principalmente em conjunturas como
            a da última década (2007-2017), de volatilidade e aparente quebra estrutural no
            nível e tendência do produto.



                                             Finanças Públicas – XXII Prêmio Tesouro Nacional – 2017 151
   148   149   150   151   152   153   154   155   156   157   158