Page 156 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


                         2 Revisão teórica e histórica:

                       política fiscal e ciclo econômico





               A  disseminação  dos  procedimentos  de  ajustamento  ao  ciclo  econômico
          como método de correção dos resultados fiscais e obtenção de indicadores que
          forneçam alguma informação sobre a situação estrutural das finanças públicas e
          sobre a orientação da política fiscal é hoje um fato da realidade. A União Europeia
          e alguns países latino-americanos (Chile, Colômbia e Peru) adotam formalmente
          esse tipo de indicador como âncora de seus regimes fiscais, enquanto outros
          simplesmente o utilizam com o propósito de monitorar os resultados fiscais.
               No Brasil, a absorção dessas técnicas nas análises governamentais é bastante
          recente. Em 2011, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) desen-
          volveu estudos aplicados que acabariam influenciando a adoção de indicadores
          desse tipo pelo Banco Central, pela Secretaria de Política Econômica (SPE) e pelo
          próprio mercado. Mais recentemente, o novo Instituto Fiscal Independente (IFI),
          criado pelo Senado Federal, também passou a fazer uso dessa ferramenta para
          monitorar a política fiscal.
               Contudo, desde o advento da crise internacional de 2008-2009, os indica-
          dores de resultado estrutural ajustado ao ciclo (e as técnicas e pressupostos
          utilizados para seu cálculo) têm sido submetidos a um forte processo de crítica
          e revisão a partir de diferentes  pontos de vista,  ou seja, tanto  de referenciais
          keynesianos, quanto neoclássicos. Para compreender a natureza dessas críticas
          e os pontos vulneráveis das metodologias empregadas, é importante resgatar a
          evolução histórica e teórica em torno desse tipo de indicador.

               A ideia de monitorar ou ancorar a política fiscal a partir de um conceito
          de balanço orçamentário ajustado ao ciclo econômico é atribuída originaria-
          mente ao economista Gunnar Myrdal, que em 1933 introduziu-a no programa
          fiscal do governo sueco.  A proposta de Myrdal era criar uma regra que permitisse
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          ao governo equilibrar seu orçamento ao longo do ciclo econômico, atribuindo à
          política fiscal um papel estabilizador das flutuações econômicas.
               Nos Estados Unidos, nas décadas seguintes, o conceito foi progressivamente
          integrado a uma meta explícita de crescimento econômico conectada à ideia de
          pleno emprego da força de trabalho, influenciada pelo pensamento keynesiano.
          Ou seja, de um arcabouço alicerçado numa relativa neutralidade da política fiscal
          diante do ciclo econômico, passou-se a um arcabouço que conferia liberdade para




          3     Para uma exegese histórica do conceito de orçamento ciclicamente ajustado, ver Constantini (2015).
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