Page 155 - XXIII Prêmio Tesouro Nacional 2018
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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Diego Pitta de Jesus


                                         2 Motivação




                  Nos últimos trinta anos, um número crescente de países incorporou regras
            numéricas na condução da política fiscal. De acordo com Kotia e Lledó (2016),
            uma regra fiscal pode ser definida como uma restrição duradoura à política fiscal
            através de limites numéricos sobre agregados orçamentários. De forma geral, elas
            podem ser de quatro tipos: regras de saldo orçamentário, regras de dívida, regras
            de despesa e regras de receita, aplicáveis ao governo central (ou geral) ou ao setor
            público. No âmbito fiscal, o principal argumento para a adoção dessas metas fiscais
            é a preocupação com o viés de déficit.
                  Como pode ser visto em Alesina e Drazen (1991), existem várias razões que
            explicam a ocorrência desse fenômeno na política fiscal. Um dos principais motivos
            para sua ocorrência é a possibilidade que os governos têm de transferir os ônus dos
            seus gastos para os governos e gerações posteriores. A segunda razão é a própria
            dinâmica dos processos democráticos e da pressão dos grupos de interesse. Nesse
            contexto, os políticos aumentam a sua chance de (re)eleição ao atender a interesses
            específicos, assumindo grande quantidade de gastos ou despendendo recursos
            públicos a determinados grupos, em detrimento dos futuros contribuintes.
                  Outro argumento, apresentado por Eyraud et al. (2018), é que o uso de regras
            fiscais está, em média, correlacionado com posturas fiscais mais rígidas e políticas
            mais estabilizadoras. Além disso, países com regras tendem a ter déficits fiscais e
            dívidas menores em comparação com países sem regras. Vale notar também que
            a adesão às regras fiscais parece ter permitido uma postura fiscal mais estabili-
            zadora. Pesquisa de 2015 realizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI),
            por exemplo, revela que, nas economias avançadas, a adoção de regras fiscais
            mais que duplica a correlação negativa entre o tamanho do governo e a volati-
            lidade do produto da economia.  Esse fato é corroborado pelo aumento da sensi-
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            bilidade média do resultado primário ao ciclo econômico nos estados-membros
            da União Europeia. O estudo do FMI (2015) examina a experiência de um grupo
            de países: Botsuana, Brasil, Chile, Índia, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça. Todos
            eles tiveram sucesso em seu sistema de regras. Nessa análise, o sucesso é definido
            pela capacidade de as regras alcançarem os seus objetivos de política, incluindo a
            redução dos déficits primários.
                  Os resultados positivos da adoção de metas fiscais fez com que mais  de
            noventa países passassem a utilizar algum tipo de regra na condução da política
            fiscal, conforme ressaltam Kotia e Lledó (2016). Dentro desse grupo estão, entre
            outros, todos os países que pertencem ao G-20 e à Organização para a Cooperação


            1   Essa correlação é uma proxy para o efeito estabilizador.
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