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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Rafael Barros Barbosa


          momento, estima-se um vetor autorregressivo estrutural (SVAR) com o fim de
          identificar o impacto de choques de incerteza sobre os principais componentes
          fiscais do governo federal: receita fiscal, despesa fiscal e transferências. A identi-
          ficação do SVAR é realizada por meio da decomposição de Cholesky, como em
          outros trabalhos empíricos sobre o  tema (BLOOM, 2009; BLOOM; BAKER;
          DAVIS, 2016; CAGGIANO et al., 2014). A incerteza, na especificação principal, é
          mensurada pelo índice de incerteza econômico-político (EPU), desenvolvido por
          Bloom, Baker e Davis (2016).
               Os resultados apontam que choques de incerteza reduzem significativa-
          mente a receita fiscal e as transferências do governo federal. Todavia, o impacto
          sobre as despesas fiscais é pequeno e pouco persistente. Assim, diante de choques de
          incerteza, a situação fiscal do governo federal, mensurada pelo resultado primário,
          é negativamente afetada. A função impulso-resposta acumulada de um choque de
          1 desvio-padrão na medida de incerteza sobre o resultado primário indica um pico
          de pouco mais de 1% negativo, com uma persistência de mais de quarenta meses.
               Diferentes exercícios de robustez são realizados para aumentar a confia-
          bilidade dos resultados. Primeiro, são testadas diferentes especificações para
          o SVAR, como: utilização de outras métricas de incerteza, mudança na ordem
          das variáveis, mudança das variáveis de controle e estimação do vetor de autor-
          regressão com uso de variáveis latentes (Favar). Posteriormente, verifica-se se os
          mesmos resultados são obtidos ao se adotar uma forma alternativa de identifi-
          cação do efeito causal. Para tanto, utilizam-se os choques no índice de incerteza
          dos Estados Unidos como uma variável instrumental para os choques no índice
          de incerteza do Brasil. Ambos os exercícios de robustez confirmam os resultados
          encontrados pela estimação do SVAR principal.
               Após a constatação empírica, investiga-se por quais canais os choques de
          incerteza afetam os resultados fiscais. Para isso, simula-se um modelo estru-
          tural dinâmico estocástico de equilíbrio geral (DSGE) calibrado para o Brasil.
          Ele incorpora diversos elementos típicos de um modelo neokeynesiano (NK)
          padrão,  como rigidez de  preços  e  salários, heterogeneidade de  agentes  econô-
          micos, presença de investimento público, formação de hábitos de consumo, custo
          de ajustamento do investimento e existência de capacidade ociosa.
               A introdução de rigidez de preços e salários implica que o produto é afetado
          por variações tanto na oferta quanto na demanda agregada. Essa hipótese é impor-
          tante porque, de acordo com os fatos estilizados, choques de incerteza possuem
          efeitos relevantes sobre os componentes da demanda agregada, como investimento
          e consumo. Leduc e Lui (2016) e Basu e Bundick (2017) mostram que modelos
          com rigidez de preços são mais adequados para entender o impacto da incerteza
          sobre as variáveis macroeconômicas.



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