Page 25 - XXIII Prêmio Tesouro Nacional 2018
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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Rafael Barros Barbosa


                  Assume-se, neste trabalho, que o governo possui seis instrumentos de
            política fiscal: gasto do governo, investimento público, transferências unilaterais,
            tributação sobre consumo, trabalho e capital. O governo segue uma regra fiscal
            que depende tanto do desempenho do instrumento fiscal defasado quanto das
            condições da economia, mensuradas pela taxa de crescimento do nível de endivi-
            damento do governo e pela taxa de crescimento do produto real.

                  O governo financia seu déficit fiscal por meio da tributação e do endivi-
            damento público. Transferências unilaterais são destinadas aos agentes que não
            possuem acesso ao crédito, como um tipo de tributação lump-sum. O investimento
            público, por sua vez, é um componente da função de produção da economia,
            podendo ser interpretado como investimentos em infraestrutura que melhoram o
            desempenho das firmas no setor intermediário.

                  Choques de incerteza são introduzidos no modelo DSGE como distúrbios
            não previsíveis na volatilidade da produtividade. Esse tipo de modelagem,
            adotado em outros trabalhos (LEDUC; LUI, 2016; LEE et al., 2014), permite que
            o choque de incerteza impacte a economia a partir da função de produção das
            firmas intermediárias. Uma desvantagem dessa forma de introdução dos choques
            de incerteza é a impossibilidade de determinação da causa que origina o choque,
            o que significa dizer que a incerteza é exógena ao funcionamento da economia.
            A calibração do processo gerador da volatilidade é feita com base nas evidências
            obtidas pela estimação do modelo SVAR.

                  Os resultados da simulação são semelhantes aos obtidos por esse modelo. Em
            relação aos componentes fiscais, objeto desta monografia, choques de incerteza
            reduzem significativamente a receita tributária e elevam as transferências unila-
            terais. O gasto público, em contrapartida, é pouco impactado pela incerteza. Ao
            se compararem as funções impulso-resposta no modelo simulado e no modelo
            SVAR sobre o resultado primário, percebe-se que o modelo simulado se ajusta
            bem às evidências empíricas.
                  O principal canal de transmissão da incerteza para os resultados fiscais é
            a tributação sobre o consumo. Os demais tipos de tributo são também afetados,
            porém em menor magnitude e de forma menos persistente. Uma importante
            evidência do estudo é que em diferentes cenários a tributação total é sempre
            impactada negativamente pelos choques de incerteza.

                  De modo geral, verifica-se que a incerteza representa um grande desafio
            para a condução da política fiscal, particularmente em períodos recessivos. Os
            formuladores de políticas econômicas devem estar preparados para uma redução
            esperada de receita fiscal, especialmente via tributação sobre o consumo. Além
            disso, constata-se que a sensibilidade dos componentes fiscais aos choques de
            incerteza depende das condições de financiamento do governo.


                                             Finanças Públicas – XXIII Prêmio Tesouro Nacional – 2018 23
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