Page 122 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Dayson Pereira Bezerra de Almeida


               Os autores argumentam que “a legislação de proteção ao emprego (EPL)
          encoraja relações de trabalho estáveis, mas pode também dificultar o processo de
          realocação, com impacto negativo sobre a produtividade” (2014, p. 7). Bassanini,
          Nunziata e Venn (2009) reforçam que estritas leis trabalhistas reduzem o cresci-
          mento da produtividade.

               A literatura aponta, ademais, a necessidade de se melhor compreender os
          efeitos de choques no mercado de trabalho para os ciclos econômicos, especial-
          mente no que diz respeito a perturbações no poder de barganha dos trabalhadores.
          Em breve revisão bibliográfica, Charpe e Kühn (2012) apresentam os seguintes
          estudos empíricos sobre o tema: Gali, Smets e Wouters (2011) destacam que
          choques sobre o mark up dos salários contribuem sensivelmente para flutuações
          do produto e são o principal determinante de variações no emprego (e desem-
          prego) – em um horizonte de quarenta trimestres, tais choques respondem por
          17% da variação do produto e explicam 80% da flutuação observada no nível de
          emprego; Christoffel, Kuester e Linzert (2009), em conclusão análoga, apontam a
          relevância dos choques sobre o poder de barganha do trabalhador como fenômeno
          explicativo de variações na inflação e no produto: perturbações dessa natureza
          respondem por 8% dos movimentos no produto, no curto prazo, e por 16% das
          mudanças mensuradas no longo prazo.

               Ainda segundo Charpe e Kühn (2012, p. 3),

               Na literatura de ciclos de negócios (business cycles), o ajustamento do salário real
               é um importante determinante do desemprego. Em modelos neokeynesianos que
               incorporam rigidez na busca de emprego (search and matching frictions) e barganha
               sobre a distribuição da renda do trabalho, um declínio no salário real aumenta o
               produto e o emprego. A principal razão é que salários mais baixos aumentam a
               demanda das firmas por trabalho. Como as firmas se apropriam de uma parcela
               maior do excedente gerado por um vínculo empregatício (match) adicional, há
               incentivo ao oferecimento de mais postos de trabalho. Segue daí uma forte reação
               do lado da oferta, elevando o produto.

               O movimento oposto, isto é, um aumento do mark up de salários ou do
          poder de barganha do empregado é geralmente associado a maior desemprego. Por
          exemplo, um aumento excessivo no mark up salarial é apontado como a principal
          causa do desemprego e da inflação observados nos Estados Unidos na década de
          1970 e início dos anos 1980, além de ter contribuído para o aumento na taxa de
          desemprego observado em 2011 (GALI; SMETS; WOUTERS , 2011).

               As evidências empíricas apresentadas convergem no sentido  de que a
          literatura, habitualmente, modela o episódio de uma reforma trabalhista como um
          choque negativo no mark up salarial – ver, por exemplo, Clancy e Merola (2014).
          Na mesma toada, e seguindo Anand e Khera (2016) e Cacciatore e Fiori (2016),


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