Page 125 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Dayson Pereira Bezerra de Almeida


            a argumentos macroeconômicos derivados da observação empírica e dotada de
            forte crença nas imperfeições presentes no mercado de trabalho.
                  O modelo clássico tradicional assume que o mercado de trabalho sempre
            alcança o equilíbrio, em um ambiente de competição perfeita. Nele, a oferta de
            mão de obra decorre da preferência das famílias entre lazer e consumo, devendo
            este último ser pago com renda gerada pelo trabalho. A demanda por mão de
            obra, de seu lado, deriva do nível ótimo escolhido pelas firmas, que resolvem um
            problema de maximização de lucros em face das restrições tecnológicas. Assim,
            para um dado salário, trabalhadores e empresas escolhem oferta e demanda
            correspondentes; caso as quantidades ofertadas e demandadas não se equivalham,
            o equilíbrio é restaurado mediante quedas ou aumentos salariais – contratações,
            demissões e ajustes na força de trabalho não acarretam custo algum.

                  Não há espaço para desemprego – exceto se imposta, de modo arbitrário,
            rigidez salarial –, pois o salário de equilíbrio sempre iguala o produto marginal
            do trabalho e a taxa marginal de substituição entre lazer e consumo. O modelo,
            portanto, não consegue captar o comportamento cíclico dos fluxos naturais de
            trabalhadores entre a situação de emprego e desemprego.

                  As ideias keynesianas, por outro lado, partem do pressuposto de que preços
            e salários são rígidos, do que decorre desemprego e não neutralidade monetária.
            A curva de Phillips, então, é usada para capturar o relacionamento entre as variáveis
            econômicas em um ambiente cujo ajuste de preços e salários ocorre lentamente:
            assumindo-se inflação constante, chega-se à taxa natural de desemprego.
                  A principal fragilidade dessa abordagem reside na ausência de base princi-
            piológica, dado que ela é derivada puramente de relações empíricas observadas
            até a década de 1960. Além disso, as expectativas dos agentes econômicos não
            teriam influência sobre o comportamento futuro das variáveis de interesse.
                  Como tentativa de reconciliar o equilíbrio competitivo presente no modelo
            clássico com a rigidez de preços e salários de modelos keynesianos, a abordagem
            neoclássica – surgida no final dos anos 1970 – incorpora a ideia de expecta-
            tivas racionais dos agentes e estuda as flutuações macroeconômicas a partir de
            princípios  microeconômicos,  introduzindo  a  noção  de  informação  imperfeita.
            Nesse framework, agentes observam as condições econômicas de modo imper-
            feito e fixam os preços com base em suas crenças acerca de tais condições, dando
            espaço à não neutralidade monetária.
                  No início dos anos 1980, a macroeconomia neoclássica evoluiu com o
            desenvolvimento de modelos de ciclo real de negócios (Real Business Cycle, ou
            RBC, em inglês) que explicavam a maioria das flutuações econômicas a partir de
            choques tecnológicos. Ao mesmo tempo, economistas keynesianos – que poste-
            riormente passaram a ser referidos por neokeynesianos – conceberam modelos

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