Page 171 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra
A ferramenta de plausibilidade está baseada em um modelo empírico
macroeconômico bastante simples e pode ser sintetizada em quatro etapas básicas.
Na primeira, estima-se um modelo de regressão por uma equação que explora as
correlações entre o hiato do produto (variável resultado) e seus previsores, que
incluem uma variável temporal que capta o ciclo econômico global e um conjunto
de indicadores cíclicos específicos para cada país (indicadores da Nuci e de
confiança, taxa de desemprego, etc.), que são selecionados devido à sua correlação
forte e não ambígua com a variável latente que conduz os ciclos econômicos.
Em seguida, os resultados do modelo de regressão são utilizados para
construir “intervalos de plausibilidade” a partir das estimativas de previsões
dentro da amostra ( ) e erro quadrático médio (EQM). Os limites dos intervalos de
plausibilidade (inferior e superior) são definidos como , onde Q é
m
o m-ésimo quantil da distribuição normal.
Em terceiro lugar, são identificados os hiatos do produto potencialmente
“implausíveis” como sendo aqueles que estão fora desses intervalos. Contudo,
quanto menor o valor do quantil considerado, maior será a probabilidade de haver
um “falso positivo”. Por isto, o critério de identificação define o quantil 90 como
referência para a classificação de “potenciais implausíveis” e o quantil 68 para
delimitar os casos-limites (borderline cases).
Por fim, os potenciais hiatos “implausíveis” dão início a uma investigação
mais profunda sobre quais mecanismos econômicos podem explicar a discre-
pância entre as duas abordagens, e isso conduz à conclusão de que uma das duas
estimativas é implausível. Em casos específicos, isso pode levar à substituição
dos hiatos implausíveis pela previsão da ferramenta de plausibilidade. Trata-se
assim de uma ferramenta bastante simples que se propõe a validar as estima-
tivas plausíveis e, simultaneamente, a dar algum embasamento técnico e limitar a
discricionariedade de eventuais revisões das estimativas implausíveis. 16
Nas tabelas 2 e 3 apresentamos os resultados da ferramenta de plausibi-
lidade para os nossos cálculos de hiato do produto pela abordagem de função
de produção, que até onde se tem conhecimento é inédita para dados brasi-
leiros. A frequência dos dados é trimestral e o período de estimação adotado é
de 2001Q1 a 2017Q1, que foi delimitado em função da disponibilidade de alguns
dos indicadores cíclicos. Os resultados identificaram quatorze potenciais valores
implausíveis, sendo oito que estão abaixo do limite inferior e seis acima do limite
superior. Devido às evidências de que nossas estimativas estão subestimadas nos
16 Uma crítica relevante a essa abordagem é que seus resultados estão sujeitos a uma espécie de viés de confirmação,
uma vez que as variáveis exógenas do modelo estão aproximadamente correlacionadas àquelas utilizadas para estimar o
próprio hiato do produto pela função de produção. No entanto, Hristov, Raciborski e Vandermeulen (2017) argumentam
que essa crítica somente poderia ser integralmente superada se fosse possível observar o verdadeiro valor do hiato do
produto (algo que não é possível).
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