Page 176 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


          Lemos e Mello, 2017) desenvolveram uma metodologia de estimação das elasti-
          cidades a partir de modelos de componentes não observáveis (filtro de Kalman),
          baseada na representação de espaço de estados. Nesses trabalhos, os parâmetros
          estimados são bem mais elevados do que a unidade para determinados compo-
          nentes da receita (como tributos sobre lucros) e menores para outros, resultando
          em uma elasticidade média da ordem de 1,3-1,6 e com pequena variância ao longo
          do tempo. Com abordagem de desagregação das receitas tributárias e suas bases,
          controlando para os efeitos de outras variáveis além do PIB, Oreng (2012) também
          estima elasticidades médias bem superiores à unidade (1,48), resultando em
          expressiva sensibilidade dos resultados fiscais às oscilações cíclicas da economia.

               Considerando uma elasticidade de 1,5 e um peso das receitas ajustáveis ao
          ciclo em torno de 30% do PIB para o Brasil, a semielasticidade dos resultados fiscais
          às flutuações econômicas chega a 0,45, patamar semelhante à média dos países da
          OCDE. Isso significa que para cada 1 ponto porcentual de desvio do produto em
          seu nível potencial, o resultado fiscal se altera em 0,45 ponto porcentual do PIB.
               Estudos mais recentes, como o realizado por Ribeiro (2016), entretanto,
          sugerem que as elasticidades arrecadação-PIB teriam sofrido uma quebra estru-
          tural após a crise internacional de 2008. Utilizando uma abordagem de cointe-
          gração, o autor testa a estabilidade das estimativas de elasticidade para diferentes
          agregados de receitas dividindo a amostra em duas partes (pré e pós-crise) e
          conclui que a magnitude do parâmetro caiu de 1,6-1,8 para algo bem próximo da
          unidade (0,9-1,0) – uma espécie de retorno à normalidade.

               Contudo, nenhum dos trabalhos anteriormente referidos testou os efeitos
          das mudanças na legislação tributária e os eventos atípicos sobre os parâmetros
          estimados, tampouco analisou explicitamente a hipótese de que a não linearidade
          das elasticidades esteja relacionada aos ciclos econômicos, como será feito no
          presente estudo. Alternativamente, analisar-se-á a hipótese de que houve quebra
          estrutural dos parâmetros, com testes que identificam, endogenamente, mudanças
          no valor estimado para a elasticidade para diferentes partições da amostra.

               Em outras palavras, o atual capítulo tentará analisar se a não linearidade das
          elasticidades está relacionada à falta de correção das séries, a um período extraor-
          dinariamente positivo para a economia e para as receitas ou a uma instabilidade
          paramétrica, decorrente do ciclo econômico ou de outros fatores.

               Antes de apresentar a metodologia econométrica aplicada ao cálculo das
          elasticidades, vamos detalhar na próxima seção as fontes de dados utilizadas e os
          procedimentos adotados para “aplainar” as séries de receita, ou seja, limpá-las ou
          ajustá-las para as diferentes medidas de oneração e desoneração tributária.






          174   Finanças Públicas – XXII Prêmio Tesouro Nacional – 2017
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