Page 24 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Dívida Pública e Concessão de Garantias – Josué Alfredo Pellegrini


          observado desde meados dos anos 1990, a necessidade de reservas precaucionais
          é certamente maior do que a verificada nas décadas de 1950 e 1960, quando as
          transações correntes com bens e serviços predominavam amplamente em relação
          às transações de capital.

               Quanto aos fatores específicos, o nível adequado de reservas é dado pela
          aversão do país ao risco de ocorrência de crises externas, bem como pela probabi-
          lidade de ocorrência dessas crises e pelos custos impostos à sociedade. A probabi-
          lidade de ocorrência e os custos, por sua vez, são determinados por uma série de
          fatores, como o grau de flexibilidade da economia a ajustes externos, a qualidade
          da gestão macroeconômica, o tipo de regime cambial, o grau de solidez do sistema
          financeiro doméstico, o grau de controle dos movimentos de capital, o tamanho
          das obrigações externas e o acesso a fontes de financiamento de emergência.

               Teoricamente,  o  nível  ideal de  reservas seria aquele  que  igualasse  os
          benefícios e os custos por elas gerados. Ambos são crescentes em função do nível
          de reservas, mas os benefícios devem diminuir na margem com os acréscimos
          de reservas, de tal modo que, em certo nível, os custos superem os benefícios,
          apontando o nível desejável de reservas.

               Entretanto, esse exercício de otimização pode se mostrar difícil e produzir
          resultados pouco práticos para orientar a política de reservas do país.  Assim, a
                                                                               4
          literatura sobre o assunto avançou de forma a oferecer métricas ou regras mais ou
          menos simples para orientar de modo efetivo essa política.


          3.1 Reservas em relação ao número de meses de importação



               Em  geral,  esse  tipo  de  métrica  define  o  nível  adequado  de  reservas  em
          função de uma ou mais variáveis que indiquem a potencial demanda por recursos
          externos eventualmente não supridos pelos canais usuais. Possivelmente, a mais
          antiga e talvez mais citada métrica é a que leva em conta o número de meses de
          importação do país. Diante de uma eventual dificuldade no balanço de pagamentos
          causada, por exemplo, pela queda das exportações ou pela restrição no mercado
          de crédito internacional, as reservas em nível adequado garantiriam as impor-
          tações do país por um determinado número de meses, a exemplo de três, seis ou
          doze meses, como usualmente recomendado.
               O gráfico 3 abaixo mostra a evolução das reservas internacionais do Brasil
          do final de 2001 a junho de 2017, tal qual o gráfico 1, porém em relação à média
          mensal nos últimos doze meses das importações de bens e serviços não fatores
          (notadamente fretes, viagens, propriedade intelectual e aluguel de equipamentos).

          4    Artigo clássico sobre o assunto é o de Jeanne e Ranciére (2006).

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