Page 237 - XXIII Prêmio Tesouro Nacional 2018
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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Jorge Eduardo M. Simões


                  À primeira vista, com algumas exceções, a crise atual nas finanças públicas
            estaduais não é explicada por elevados estoques de dívidas contraídas no passado.
            Um primeiro problema decorre da conjuntura econômica  desfavorável. A combi-
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            nação de baixa capacidade de endividamento com elevada rigidez orçamentária
            fez com que a postergação de despesas via restos a pagar fosse a principal fonte de
            financiamento dos estados (FIRJAN, 2017).

                  Como mostra a tabela A2, a disponibilidade de caixa líquido  no Rio
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            Grande do Sul foi deficitária no período de 2000 a 2016; em 2016, apresentou saldo
            negativo de 42,51% da RCL, ou seja, foram R$ 14.731.261.345,56 em despesas
            postergadas para 2017. No Rio de Janeiro, essa dinâmica se inicia em 2015, com
            R$ 11.104.550.157,55 (24,02% da RCL) em dispêndios preteridos para 2017.
            Outro  estado com  destaque  negativo de  insuficiência  de caixa  é Minas  Gerais.
            Ele encerrou o ano de 2016 com um déficit em caixa na ordem de 8,58% da RCL
            (R$ 4.611.294.470,22). Espírito Santo e Distrito Federal também fazem parte dessa
            lista, com saldo de caixa negativo na ordem de 3,37% e 0,16% da RCL, respectiva-
            mente (figura 2).
                  Dos 22 estados que terminaram o ano de 2016 com recursos em caixa para
            cobrir gastos postergados,   apenas oito tiveram menos de 10,00% da RCL para
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            fazer  frente  aos  imprevistos  orçamentários  em  2017.  Destaque  positivo  para  o
            Tocantins, com um crédito de 63,62%, assim como para os estados do Amapá,
            Espírito Santo e Pará, com saldo em caixa superior a 30% das respectivas RCLs
            (figura 2).




















            10   Tal  conjuntura  foi  impulsionada  pela  recessão  econômica  brasileira,  iniciada  no  segundo  trimestre  de  2014,  que
                impactou negativamente as receitas próprias estaduais e em maior intensidade, devido a desonerações tributárias e às
                transferências recebidas da União. Por outro lado, o crescimento da inflação, em 2015, pressionou os gastos públicos
                estaduais que são rígidos e têm forte correlação com o nível de preços da economia.
            11   Para esse indicador, considerou-se a disponibilidade de caixa bruta, descontados os restos a pagar processados, ponderada
                pela RCL. Ou seja, ele mede a relação entre postergações das despesas e disponibilidade de caixa e é ponderado pelo
                tamanho do orçamento do estado. Para tanto, foram considerados apenas dados referentes ao Executivo de cada estado
                (FIRJAN, 2017).
            12   Tocantins,  Amapá,  Espírito  Santo,  Pará,  Alagoas,  Paraná,  Santa  Catarina,  Ceará,  Bahia,  Piauí,  Acre,  Rondônia,
                Maranhão, Roraima, Amazonas, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do
                Norte e Goiás.

                                             Finanças Públicas – XXIII Prêmio Tesouro Nacional – 2018 235
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