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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Jorge Eduardo M. Simões


          de desvio fiscal. Essa abordagem trouxe implicações sobre a forma como as políticas
          fiscais do país reagiram historicamente ao aumento da dívida pública. Na concepção
          do autor, a restrição orçamentária intertemporal é atendida se o superávit primário
          reage positivamente a aumentos da relação dívida/PIB.

               Intuitivamente, uma resposta positiva denota que os países elevam o seu
          excedente primário quando sua dívida aumenta, por exemplo, em virtude de
          choques como recessões, crises financeiras ou desastres naturais; ou, caso contrário,
          geram um superávit mais baixo sempre que a dívida esteja em um nível relativa-
          mente baixo. Ademais, de acordo com Bohn (2007), a restrição orçamentária inter-
          temporal revela-se satisfeita se as receitas e gastos são estacionários em diferença
          para qualquer ordem arbitrária, sem a necessidade de serem cointegrados.
               De acordo com o Fundo Monetário Internacional – FMI (2012), a posição
          fiscal de um país é sustentável se a restrição orçamentária intertemporal for satis-
          feita em todos os momentos, o que significa dizer que a dívida atual tem que ser
          menor ou igual ao valor descontado dos futuros excedentes primários em todo
          o período de tempo. Quando a dívida de um país é considerada sustentável, um
          espaço adicional para gastos do governo pode ser acomodado sem pôr em perigo
          a sustentabilidade de sua posição financeira.
               No entanto, quando a relação da dívida é considerada insustentável, são
          necessárias políticas para reduzi-la a um nível sustentável, indicando um espaço
          fiscal limitado ou inexistente. O espaço fiscal, em suma, implica novos alcances
          para aumento da dívida pública sem prejudicar a sustentabilidade (BASTOS;
          PINEDA, 2013).
               O conceito de espaço fiscal é medido de diferentes maneiras. Existe um grupo
          que utiliza a diferença entre o saldo fiscal atual e o saldo estabilizador da dívida de
          médio prazo para determinar o espaço fiscal ou o ajuste necessário (gap fiscal), com
          base no caminho de dívida projetado para variáveis como o saldo fiscal, a taxa de
          desconto e as perspectivas macroeconômicas (BASTOS; PINEDA, 2013).

               O principal ponto positivo dessa abordagem é que, como o conceito de susten-
          tabilidade diz respeito ao futuro, então nela é possível incorporar medidas fiscais
          anunciadas pelo governo. Por outro lado, seu principal entrave é que suas previsões
          macroeconômicas tendem a depender de pressupostos ad hoc, e não de modelos
          formais  testáveis.  Essa  metodologia  é  comumente  utilizada  nas  publicações  do
          FMI, da Comissão Europeia e de diferentes índices de sustentabilidade, tais como
          Blanchard et al. (2007), Buiter, Corsetti e Roubini (1993) e Auerbach e Gale (2011).
               Um segundo grupo – FMI (2003), Abiad e Ostry (2005), Celasun e Kang
          (2006), Mendoza e Ostry (2008), Ghosh et al. (2013) – aponta algumas desvan-
          tagens na contribuição seminal de Bohn (1998). Para eles, o autor considera a
          relação de endividamento infinitamente crescente, desde que seja suportada por

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