Page 161 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


            tados fiscais futuros dependem das decisões de política fiscal no que se refere a
            mudanças nos gastos e na tributação, mas também dependem do nível e da taxa
            de crescimento do PIB potencial (e a relação de causalidade entre essas variáveis
            nem sempre é direta). O que não é correto é embutir na medida de impulso fiscal
            os efeitos de ambos os componentes, analisando a orientação da política fiscal pela
            simples variação do resultado estrutural ajustado ao ciclo entre dois momentos.

                  Tal procedimento pode ser aceitável em tempos de relativa estabilidade
            da taxa de crescimento tendencial da economia, em que as oscilações do PIB
            refletem fenômenos meramente transitórios, mas não em situações de volatilidade
            e mudanças do produto. Isso significa que os indicadores de ajustamento ao ciclo
            (e os outros procedimentos relacionados ao cálculo do resultado estrutural, como
            a identificação de medidas não recorrentes) devem ser adaptados para diferentes
            objetivos e perguntas que se pretenda responder sobre a política fiscal.



                               3 Crise econômica e PIB:


                        como decompor ciclo e tendência?




                  As recessões econômicas estão normalmente associadas a fenômenos transi-
            tórios, inerentes aos ciclos da economia. Em 2008, por exemplo, na esteira da crise
            internacional, a economia brasileira sofreu uma forte e abrupta desaceleração,
            passando de uma situação em que crescia a uma taxa anualizada de 6% a 7% para
            uma queda acumulada de 5,5% em apenas dois trimestres. A recessão, entretanto,
            foi bastante curta se comparada com aquilo a que assistimos na Europa e nos
            Estados Unidos, e logo no segundo trimestre de 2009 – e ao longo de 2010 – o país
            retomou o ritmo de expansão anterior.
                  Embora esse episódio possa ser caracterizado como uma quebra de nível
            no PIB, a evolução subsequente parece indicar que se tratou de um fenômeno
            transitório.  Contudo, a esse período de rápida recuperação econômica, seguiu-se
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            outra desaceleração econômica (2011-2014), que culminou numa recessão de
            pelo menos dois anos (2015-2016). Nesse caso, os testes econométricos indicam
            que houve uma quebra estrutural na tendência de crescimento do PIB a partir
            do primeiro trimestre de 2014, e as projeções futuras do mercado sinalizam que
            a retomada será lenta e se dará a taxas inferiores à média verificada na década
            passada. 6


            5    Hipótese não rejeitada pelo ajuste de um modelo estrutural de séries temporais, estimado por filtro de Kalman, com um
                procedimento automático de identificação de quebra na tendência.
            6     Os testes de Quandt-Andrews e de Bai-Perron indicam uma quebra estrutural na taxa de crescimento do PIB no primeiro
                                             Finanças Públicas – XXII Prêmio Tesouro Nacional – 2017 159
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