Page 226 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Carlos Eduardo de Freitas e Nelson Leitão Paes


          o modelo OLG. A razão é a complexidade desse tipo de modelagem, que envolve
          a resolução de milhares de equações na busca pelo equilíbrio.
               Nem mesmo o Ministério da Fazenda utiliza modelo tão sofisticado.
          Segundo o Aviso n  79 do Ministério da Fazenda (2017), nas simulações da
                             o
          reforma é usado um modelo macroeconométrico. Tal tipo de modelagem,
          muito comum na década de 1970, foi contestado por Lucas, na famosa crítica
          de Lucas (1976). A crítica relacionava-se à formulação de política econômica e
          argumentava ser inadequado tentar prever os efeitos de uma mudança na política
          econômica considerando apenas os dados históricos. Em resumo, a abordagem
          macroeconométrica não permite que os agentes alterem seu comportamento em
          função das mudanças na economia. Eles continuariam se comportando da mesma
          maneira, independentemente do que ocorria na política econômica.

               Após Lucas (1976), ganharam grande impulso os modelos chamados
          microfundamentados, como o de Ramsey (1928) e o modelo OLG (DIAMOND,
          1965). Tais modelos permitem que os agentes econômicos alterem seu
          comportamento diante de alterações na política econômica, sendo, portanto,
          muito mais adequados para simulações previdenciárias do que grandes modelos
          macroeconométricos. Não surpreende que a literatura internacional tenha no
          modelo OLG o seu padrão para análise de mudanças previdenciárias.  3
               Este  trabalho,  portanto,  contribui  para  a  literatura  nacional  ao  utilizar
          um modelo para simular os impactos da PEC n  287/2016, o que ainda não foi
                                                         o
          feito. Também será útil para a formulação de política econômica, pois oferece
          as simulações de um modelo muito usado na literatura internacional, mas que
          não foi aplicado pelo governo brasileiro nas suas simulações da reforma da
          previdência, contribuindo com um novo olhar para a análise dos impactos das
          mudanças previdenciárias.

               Os resultados sugerem que a PEC n  287/2016 tem efeitos relevantes sobre a
                                                  o
          economia. Comparando a situação sem reforma com a reforma proposta pela PEC
          n   287/2016,  observa-se  que  as  variáveis  macroeconômicas  apresentam  melhor
           o
          desempenho graças à reforma, com o produto, o consumo e o emprego alcançando
          patamares mais elevados em toda a trajetória. Porém, o déficit previdenciário total,
          que inclui RGPS e RPPS, salta de algo em torno de 5% do PIB para 14% do PIB
          com reforma e 25% do PIB sem reforma. A conclusão é que a reforma da PEC n
                                                                                        o
          287/2016 ajuda, mas está muito longe de resolver o déficit previdenciário.

               Desse modo, foi realizada uma terceira simulação, que eliminasse o déficit
          previdenciário. Nesse caso a idade mínima deveria subir para algo em torno de 72
          anos, com regra de transição idêntica à da PEC n  287/2016, ou seja, a idade mínima
                                                       o

          3     Entre muitos autores, é possível citar Auerbach e Kotlikoff (1987), Altig et al. (2001), Sánchez Martin e Sánchez Marcos
             (2010) e Buyse, Heylen e Van de Kerckhove (2017).
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