Page 248 - XXIII Prêmio Tesouro Nacional 2018
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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Jorge Eduardo M. Simões


                                     4 Metodologia




          4.1 Referencial teórico



               A formulação teórica utilizada está diretamente relacionada à restrição
          orçamentária intertemporal do governo, que é uma condição de equilíbrio no
          qual a variação da dívida pública em t + 1 é igual à diferença entre a taxa de juros
          e a taxa de crescimento do PIB multiplicada pelo estoque da dívida no tempo t,
          menos o superávit ou déficit primário no tempo t + 1. Ou seja:


                                                                                      (1)
               Na equação,  d é a dívida pública como proporção do PIB;  g é a taxa de
          crescimento do PIB real, assumida como exógena e constante; sdp é o superávit
          (ou déficit) primário em relação ao PIB; e r é a taxa de juros real sobre a dívida
          contraída no período  t e devida no período  t  + 1, assumida como exógena e
          constante.
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               Essa análise parte da premissa de que os governos geralmente se comportam
          de forma responsável, aumentando o superávit primário em resposta ao serviço
          da dívida, a fim de estabilizar a relação dívida/PIB a um nível razoável (GHOSH
          et al., 2013). Essa é uma premissa consistente com as de Bohn (2007), que analisa
          a dinâmica da dívida dos Estados Unidos, e de Medonza e Ostry (2008), que
          estudam a dívida de um subconjunto de economias industriais e emergentes.

               De acordo com Bastos e Pineda (2013), mesmo em uma economia com
          baixos níveis de dívida, os superávits primários podem não responder ao aumento
          da dívida, reduzindo os recursos para sua política fiscal. Ghosh  et al. (2013)
          argumentam que grandes  aumentos nos estoques das dívidas estão associados
          a  choques,  portanto, são  estabilizados  desde  que  os governos  respondam  com
          disciplina fiscal. No entanto, há um ponto em que a relação dívida/PIB do país
          e os pagamentos de juros aumentam tanto que os formuladores de políticas são
          tentados a desistir. Isso pode acontecer quando a participação da renda nacional
          no pagamento de impostos se torna muito onerosa. Nesse caso, os cortes nos
          gastos do governo e os aumentos de impostos necessários se revelam politica-
          mente inviáveis.




          17   Ostry et al. (2010) e Ghosh et al. (2013) assumem que a taxa de juros é endógena e em equilíbrio com uma função
             crescente da probabilidade de inadimplência. Para os estados brasileiros, segundo Bastos e Pineda (2013), as taxas de
             juros são exógenas porque mais de 90% de suas dívidas são contraídas com o governo federal, como resultado de várias
             rodadas de resgates e renegociações. A taxa de juros para essas obrigações é fixa, e não determinada pelo mercado.

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