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Tema – Equilíbrio, transparência e planejamento fiscal de médio e longo prazo – Rafael Barros Barbosa


          também é adotada em Bloom (2009), Alloza (2017), Bake, Bloom e Davis (2016),
          entre outros, e permite computar apenas os períodos de aumento dos choques de
          incerteza, isto é, situações em que a incerteza se eleva significativamente.



          3.2 Resultados do modelo SVAR principal



               A figura 3 apresenta os resultados para a função impulso-resposta do modelo
          VAR em sua especificação principal. Em cinza estão os intervalos de confiança
          para 68% (em cinza mais escuro) e 95% (em cinza mais claro). Tais intervalos
          foram calculados por meio de um procedimento de bootstrap com quinhentas
          replicações. Três componentes fiscais são analisados: receita fiscal, despesa fiscal
          e transferências.

               A receita fiscal é reduzida na magnitude de quase 0,3% imediatamente após
          um  choque  de  incerteza.  O efeito  continua  negativo  pelo  menos  até o  quinto
          trimestre após o evento, o que evidencia um elevado grau de persistência do choque
          sobre esse componente fiscal. Em relação à despesa fiscal, o impacto imediato do
          choque de incerteza é uma redução pequena, porém significativamente diferente
          de zero. Entretanto, o efeito do choque é pouco persistente, uma vez que a função
          impulso-resposta retorna para a estabilidade ainda durante o segundo trimestre.
               Por fim, o impacto da incerteza sobre as transferências é significativo, porém
          de menor magnitude, assim como sobre a despesa fiscal. O efeito do choque é
          mais persistente para as transferências do que no caso da despesa, pois a função
          impulso-resposta não retorna ao nível inicial mesmo após cinco trimestres.
               Em resumo, os resultados sobre a receita líquida do governo federal (receita
          fiscal) e sobre as transferências são negativos, bastante persistentes e apresentam
          magnitudes diferentes, sendo a receita fiscal muito mais afetada. Por sua vez, o
          efeito sobre a despesa fiscal é pequeno e pouco persistente.
                 Esse comportamento diferenciado, tanto em termos de magnitude quanto
          em termos de direção do efeito causal, diante de choques de incerteza, causa
          distorções fiscais que podem dificultar a condução da política fiscal. Para ilustrar
          esse ponto, a figura 4 apresenta a função impulso-resposta acumulada sobre o
          resultado primário do governo federal devido a um choque de incerteza.

               Observa-se que o efeito acumulado é negativo sobre o saldo primário, e ao
          longo de cinco trimestres esses déficits não são recuperados. Portanto, o efeito do
          desalinhamento entre receitas e despesas após choques de incerteza pode levar
          a um déficit prolongado sobre o resultado primário, dificultando a condução da
          política fiscal.



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