Page 162 - XXII Prêmio Tesouro Nacional 2017
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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Sérgio Wulff Gobetti, Rodrigo Octávio Orair e Frederico N. Dutra


               Em outras palavras, há indícios de que a recessão recente (e outros fatores
          correlacionados a ela) produziu efeitos permanentes e não apenas transitórios
          sobre o nível e o ritmo de expansão da atividade econômica. O problema crucial é
          como mensurar esses impactos permanentes (ou duradouros), com reflexos sobre
          as finanças públicas, por meio de um indicador de hiato do produto suficiente-
          mente robusto.

               A estimação dessa variável não observada está longe de ser procedimento
          trivial, pode ser realizada por diversos métodos que fornecem distintas estima-
          tivas e cada um possui vantagens e desvantagens. Se o objetivo dessa estimação
          for avaliar os impactos das oscilações cíclicas sobre as finanças públicas, ou até
          mesmo subsidiar um indicador de monitoramento fiscal, o ideal é que se opte
          pelo método mais simples e transparente possível e que, ao mesmo tempo, forneça
          estimativas estáveis e não enviesadas.

               Nas últimas décadas, basicamente duas metodologias predominaram entre
          as principais instituições públicas e organismos multilaterais:  o filtro HP e a
          abordagem de função de produção. No entanto, ambas estão sendo submetidas a
          fortes críticas pela falta de robustez das suas estimativas em períodos de grande
          volatilidade cíclica como o que vivemos atualmente. Por isso, o presente capítulo
          será  dedicado  a  apresentar  sucintamente  esses  dois  métodos,  suas  principais
          limitações e alguns procedimentos da literatura recente para aprimorá-los. Parale-
          lamente, iremos apresentar estimativas do hiato do produto para a economia
          brasileira que já incorporam esses aprimoramentos metodológicos.



          3.1 Decomposição pelo filtro HP



               O recurso a filtros estatísticos suavizadores para estimar o produto
          tendencial é um dos métodos mais difundidos na literatura, sendo o mais popular
          o filtro Hodrick-Prescott – HP (HODRICK; PRESCOTT,1997), que faz uso de
          um algoritmo de minimização da soma dos desvios quadráticos em relação a uma
          tendência. O apelo dessa abordagem é sua simplicidade, transparência e facilidade
          de ser aplicada em qualquer país com dados de PIB e escassez de outras infor-
          mações mais complexas, o que explicaria sua difusão entre países emergentes com
          maior carência de dados como o Brasil (BLAGRAVE et al., 2015).
               Contudo, a relativa simplicidade do filtro HP convencional traz consigo várias
          limitações, como a falta de uma estrutura teórica subjacente e, talvez mais graves,
          problemas derivados das suas propriedades estatísticas, como a imposição de média
          zero para os hiatos do produto e elevada sensibilidade das estimativas à adição de


             trimestre de 2014. Ver Apêndice A.
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