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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Helder Ferreira de Mendonça e Joseph David B. Vasconcelos de Deus


               Ideologia dos partidos políticos é outro elemento levado em consideração no
          comportamento do orçamento fiscal. As hipóteses traçadas por Brück e Stephan
          (2006) indicam que governos de esquerda preferem manter o nível de atividade
          (empregos) aos custos da estabilidade de preços, o que implica maior dificuldade
          de prever as receitas tributárias. O oposto ocorre com governos de direita. Entre-
          tanto, Fabrizio e Mody (2006) argumentam que a tradicional distinção esquer-
          da-direita tem efeitos ambíguos sobre o orçamento, e, por esse motivo, preferem
          adicionar ao efeito ideológico mais dois componentes: a centralização fiscal e o
          nacionalismo. Governos com inclinação partidária de direita, não nacionalistas e
          centralizadores das finanças públicas tendem a apresentar um quadro orçamen-
          tário mais conservador (favorável ao equilíbrio fiscal). O oposto ocorre quando
          essas características não estão presentes.



          2.2.2 Fatores econômicos


               As projeções viesadas de crescimento econômico (erros de previsões do
          crescimento do PIB) são, talvez, a principal variável apontada na literatura quando
          se quer explicar os erros de previsão fiscal, pois o PIB age como um estabilizador
          automático no balanço orçamentário por alterar a arrecadação das receitas.
               Uma projeção de crescimento econômico muito otimista na fase de plane-
          jamento fiscal pode criar uma situação ilusória positiva (de maior superávit ou
          menor déficit) por superestimar as receitas ou subestimar gastos. Esse quadro
          favorece o representante político, pois ele pode ex-ante elevar os gastos planejados
          sem com isso passar a imagem de irresponsabilidade com as contas públicas, ao
          passo que, ex post, ele atribui o erro de previsão do PIB às condições aleatórias
          ruins do ciclo econômico (ALESINA; PEROTTI, 1996). Uma solução para esse
          problema é atribuir às autoridades independentes do governo a função de construir
          as previsões de variáveis macroeconômicas que servirão de base para o orçamento
          fiscal (JONUNG; LARCH, 2006).
               Dentre  outros fatores econômicos  capazes  de criar impactos sobre as
          projeções orçamentárias, as condições cíclicas da economia medidas pelo hiato do
          produto são consideradas importantes para o estágio de planejamento orçamen-
          tário (STRAUCH; HALLERBERG; VON HAGEN, 2004). Situações de incerteza
          são geradas pelos ciclos econômicos e induzem ao viés de previsão se o público
          esperar melhores condições econômicas em épocas de fracasso ou, também, por
          serem otimistas em excesso nas épocas de boom econômico.
               O estoque inicial da dívida pública também exerce pressão sobre o orçamento.
          O argumento mais comum expõe que quanto maior for o estoque da dívida,
          maior é o esforço fiscal para conter gastos (aumento do superávit ou redução do

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