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Tema – Equilíbrio e Transparência Fiscal – Helder Ferreira de Mendonça e Joseph David B. Vasconcelos de Deus


          HAGEN, 2010). A solução para resolver esse tipo de problema é alcançada via
          desenho do processo orçamentário com a criação de uma forma de governança
          fiscal (ou arranjo institucional) capaz de fazer os tomadores de decisão envolvidos
          internalizar os custos marginais.

               A forma de governança é separada em duas modalidades mais comuns:     8
               i.  contratos – a determinação de como distribuir os recursos públicos
                   advém de uma negociação coletiva (em geral, no parlamento) entre os
                   tomadores de decisão que, por sua vez, assumem o compromisso de
                   cumprir o objetivo fiscal acordado; e
               ii.  delegação – a decisão sobre as despesas orçamentárias entre as mais
                   diversas rubricas ministeriais, bem  como o controle  na  execução,  é
                   centralizada no ministro das Finanças (ou no primeiro-ministro).
               No primeiro caso, os custos da externalidade são revelados e são interna-
          lizados por meio do processo de negociação dos objetivos fiscais, enquanto no
          segundo caso os custos são internalizados pelo ministro das Finanças, que é o
          único responsável pelo sucesso ou pelo fracasso do orçamento como um todo.
          Strauch, Hallerberg e Von Hagen (2004) admitem também a possibilidade de que
          as duas formas de governança podem ser misturadas sob governos minoritários.
          Nesse caso, um ministro das Finanças com apoio majoritário no parlamento pode
          centralizar o processo dentro do governo, mas a aprovação final passaria pela
          negociação de contratos fiscais com os partidos-chave de oposição.
               Von Hagen (2010) resume as principais hipóteses de como os tomadores
          de decisão agem diante da forma de governança. Um governo que opera sob um
          processo orçamentário do tipo contrato deveria ter suas projeções para o balanço
          orçamentário e receitas viesados para baixo (isto é, erro de previsão positivo),
          pois na fase de execução o uso de maiores receitas do que aquelas previstas é mais
          fácil de negociar do que o corte de gastos, caso as projeções sejam maiores que o
          valor efetivo correspondente. Por outro lado, um governo que opera sob o regime
          de delegação tem mais força de ajustar o orçamento sem os custos de negociação
          política e, portanto, tem menor razão para viesar as previsões. Os resultados de
          testes empíricos realizados por Strauch, Hallerberg e Von Hagen (2004), Annett
          (2006), Von Hagen (2010) e Pina e Venes (2011), todos utilizando dados dos países
          da União Europeia, confirmam a existência de efeitos da forma de governança
          fiscal nos erros de previsão fiscal ou função de reação fiscal.
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          8     Para maiores detalhes sobre essas duas formas de governança, ver Hallerberg e Von Hagen (1999) e Hallerberg, Strauch
             e Von Hagen (2007).
          9     Os coeficientes da forma de governança do tipo “contrato” são estatisticamente significantes e positivos em estimações de
             uma função de reação fiscal ou de uma função de erro de previsão. Isso mostra que um governo que opere sob a forma
             de contrato tende a ser mais cauteloso em suas previsões de modo a não depender de negociações do parlamento para
             realizar corte de gastos imprevistos.
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